Ao visitar os jardins onde reside a Bienal de Veneza, em um terreno inclinado e arborizado, podemos encontrar uma obra que repousa silenciosamente e entre as mais potentes da arquitetura do século XX: o Pavilhão Nórdico, projetado por Sverre Fehn.

Criado através dos conceitos e homenagens à Noruega, Suécia e Finlândia, o edifício responde com uma sensibilidade ímpar às condições do local, integrando-se harmonicamente à paisagem e natureza de maneira quase orgânica. Confira.

Luz, leveza e o estilo escandinavo

Créditos: Åke E:son Lindman

Fehn teve a ideia de não remover as árvores do terreno. Ao preservá-las, permitiu que crescessem livremente dentro da edificação. Com isso, o pavilhão não se impõe sobre o espaço, mas o respeita, convivendo com ele. E essa relação direta com o entorno natural não é o único ponto destaque do projeto.

O tratamento da luz natural, projetada através de uma consideração por coberturas compostos em formato de grelha dupla de vigas de concreto, permite filtrar a luz solar e criar um ambiente com iluminação difusa, estável e suave, homenageando o céu nórdico em plena Veneza.

Além disso, com uma planta livre de colunas internas, o pavilhão propõe um espaço fluido e versátil. Não há ornamentos excessivos nem soluções complexas: apenas a beleza clara dos materiais como concreto, vidro, aço e madeira.

É aí que mora a elegância da obra: na sua contenção, inteligência e economia de meios, qualidades que fazem com que o Pavilhão Nórdico, mesmo após seis décadas, permaneça relevante, inspirador e contemporâneo.

Lições arquitetônicas que atravessam o tempo

A longevidade estética e conceitual que são intrínsecas ao Pavilhão Nórdico é fruto de princípios que permanecem profundamente atuais:

• Integração com a natureza: a obra incorpora a paisagem. Essa abordagem promove uma conexão emocional entre o espaço construído e seu entorno.

• Iluminação natural como elemento da estrutura: a maneira como a luz é controlada dita a atmosfera do espaço, algo replicável em projetos contemporâneos que priorizam o bem-estar, por exemplo.

• Espaço livre, aberto e versátil: a ausência de colunas e divisórias permite um espaço dinâmico e adaptável para diferentes usos, conceito que abraça premissas da arquitetura e design de interiores.

• Materialidade singular: o uso consciente dos materiais confere autenticidade e permanência, distanciando-se de modismos passageiros.

As inspirações legadas aos ambientes planejados

Créditos: Åke E:son Lindman

As lições deixadas por Fehn e pelo Pavilhão Nórdico não pertencem apenas a um campo da arquitetura. Elas podem ser traduzidas também para ambientes tradicionais, especialmente em projetos que buscam equilibrar funcionalidade e sofisticação:

• Integração entre áreas: ambientes planejados podem incorporar a natureza por meio de aberturas generosas, dando continuidade visual através de jardins internos ou materiais naturais.

• Qualidade de luz: assim como a luz natural no Pavilhão Nórdico, o design de interiores pode pensar a iluminação como uma nova camada no projeto, trazendo um viés sensível e funcional.

• Espaços fluídos e flexíveis: um mobiliário planejado, quando bem elaborado, respeita a fluidez espacial e contribui para ambientes mais livres, com menos barreiras e maior adaptabilidade.

• Materiais que expressam o tempo: optar por superfícies que dialogam com o tato é reforçar o caráter único de cada obra, e a honestidade do material é uma parte essencial deste aspecto.

Arte em permanência no tempo

O Pavilhão Nórdico não é um mero edifício. É um testamento da arquitetura, de contenção poética e de atenção ao redor. Sua importância não vem da sua monumentalidade, mas de sua delicadeza ao ser incorporada ao espaço, tempo e luz.

Através disso, ele segue atual, com sua concepção ainda valorizada: o respeito ao lugar, a economia dos meios, a clareza formal e seu compromisso com o aspecto humano. Quando aplicados com sensibilidade, esses valores transformam os ambientes cotidianos em palcos significativos do viver, elevando o encontro entre arte, design e o ser.

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